A Leitura é Uma Amizade

 

 

Acredito que pouca coisa pode ser mais precioso ao homem do que saber ler. Pode-se estar em uma terra distante, fora do seu ambiente, mas se há a companhia de um livro, não existe solidão.

A leitura é um universo. Universo de línguas, lugares, hábitos, sentimentos, descobertas, história e estória.

Michel Proust disse que "a leitura é uma amizade". Sim é uma amizade silenciosa com um escritor que provavelmente nunca vimos, mas que nos tornamos íntimos dele e com suas personagens conversamos, rimos, nos emocionamos, opinamos, matamos o bandido, damos a vitória ao herói.

Nunca se estará sozinho se tivermos um livro. Quando a personagem Tereza do livro "A Insustentável Leveza do Ser" de Milan Kundera, estava na cidade de Praga, onde não conhecia ninguém e precisava esperar por Tomas por longas trinta e seis horas, tinha apenas uma bolsa e o livro Ana Karenina. Ela não estava sozinha.

E quem gosta de ler é também amigo do livro. Gostei da campanha do Ministério da Educação para que os estudantes cuidem bem do livro didático, para que outros alunos também possam utilizá-los e realizará um concurso premiando o aluno que melhor cuidou deste livro no ano letivo.

O livro didático muitas vezes é o primeiro contato que a criança tem com um livro, propriamente. E o Brasil tem grande empenho, tanto que é recordista mundial na quantidade de livros didáticos distribuídos nas escolas públicas, em 2004 serão 116 milhões de títulos.

Há muitas outras boas iniciativas do setor público e privado, como as bibliotecas móveis que vão para portas de fábricas e bairros populosos, as bienais e feiras com livros a preços acessíveis, o programa de alfabetização solidária. Os resultados desse empenho já surgiram. Segundo o IBGE, houve queda de 32,3% no índice nacional de analfabetismo do grupo composto por jovens e adultos, acima de 15 anos de idade. Em 1991, o percentual era de 20,1%, caindo para 13,6% em 2000.

Quando quiser presentear alguém e não souber com o que seria melhor, escolha um livro. Pode ser um da atualidade, um clássico, um religioso, respeitando o interesse do presenteado.

O livro pode não ser muito bom, mas mesmo assim você estará dando a oportunidade ao leitor de ser inventivo, como fala Machado de Assis sobre um em Dom Casmurro: "Nada se emenda bem nos livros confusos, mas tudo se pode meter nos livros omissos. Eu, quando leio algum desta outra casta, não me aflijo nunca. O que faço, em chegando ao fim, é cerrar os olhos e evocar todas as coisas que não achei nele. Quantas idéias finas me acodem então! Que de reflexões profundas! Os rios, as montanhas, as igrejas que não vi nas folhas lidas, todas me aparecem agora com as suas águas, as suas árvores, os seus altares; e os generais sacam das espadas que tinham ficado na bainha, e os clarins soltam as notas que dormiam no metal, e tudo marcha com uma alma imprevista.".

Quem sabe você não está lançando aí a semente de uma nova amizade?

 

 

 

Sibele Ligório é contabilista, técnica em informática e acadêmica de Filosofia pela PUC - Campinas. É criadora do site Vida em Poesia.