(...) Na amizade a que me refiro, as almas
entrosam-se e se confundem em uma única alma, tão unidas uma à
outra que não se distinguem, não se lhes percebendo sequer a
linha de demarcação. Se insistirem para que eu diga por que o
amava, sinto que o não saberia expressar senão respondendo:
porque era ele; porque era eu.
E mais do que poderia dizer, de uma maneira
geral e no caso em apreço, intervém em ligações dessa natureza
uma força inexplicável e fatal que eu não saberia definir. Nós
nos procurávamos antes de nos termos visto, pelo que ouvíamos
um acerca do outro, e nascia em nós uma afeição em verdade
fora de proporções com o que nos era relatado, no que vejo
como que um decreto da Providência. Abraçávamo-nos pelos
nossos nomes e em nosso primeiro encontro casual em Bordéus,
por ocasião de uma festa pública e em numerosa companhia,
sentimo-nos tão atraídos um pelo outro, já tão próximos, já
tão íntimos que desde então não se virão outros tão íntimos
como nós.