Lendo a matéria intitulada
“Quem você quer ser quando crescer?” de uma revista que entrevistava
28 crianças sobre quem eram seus ídolos ou como quem eles gostariam
de ser quando crescessem, fiquei meio espantada com a constatação.
A
maioria delas gostaria de ser como personalidades: Ronaldinho; Guga;
Airton Senna; modelos; artistas de televisão; cantores; dançarinas
de grupos musicais; personagens infantis e de novelas. Apenas cinco
citaram seus pais, avós, parentes próximos ou professores. Um menino
disse com muita personalidade, querer ser ele mesmo.
Será que os pais, parentes, professores, não estão sendo um bom
exemplo a ser lembrado? Ou não são tão inspiradores? Creio que não
seja este o motivo.
Muitas crianças que nem nascidas eram quando Airton Senna morreu,
falam dele com adoração. Não há dúvidas que o piloto ajudou a
projeção do Brasil no esporte, mas existe exageros da mídia nos
elogios, como o citado numa edição recente da revista Veja ao lado
de uma foto onde uma multidão acompanhava seu enterro: “Ídolo
Santificado: o adeus a Senna: morte trágica fez dele um mito com uma
certa aura de santo”. Pela matéria, parece que Senna era avesso as
exposições de sua vida privada.
Airton Senna foi só um exemplo, visto que há muitas celebridades
também igualmente idolatradas, ao ponto de admiradores copiá-las na
forma de se vestirem, na fala e no comportamento geral, chegando ao
ponto de admiradores fazerem cirurgias plásticas para ficarem mais
parecidos com seus ídolos, enfim, pessoas que trocam sua
personalidade pela a do admirado.
Todos os dias surgem novos ídolos criados e projetados pela mídia e
pela própria sociedade. Parece haver uma necessidade contínua que
isso aconteça. Mas interessante é que muitas vezes aquele que foi
ídolo no passado, pouco tempo depois do auge do estrelato já não é
nem lembrado, o que acontece quando “as lembranças” da mídia cessam?
Recentemente uma modelo e
ex-mulher de um cantor foi aos canais de TV falar da falta de ajuda
financeira dele e como estava grávida, passou alguns meses
circulando em diversos programas com vasto tempo para falar do seu
relacionamento-drama: se deixaria o pai ver a criança nascer; se ele
pagaria as despesas; enfim, assuntos que só deveriam interessar aos
envolvidos, o absurdo foi que um desses programas chegou a veicular
o parto!
E
deve ter dado ibope... De repente, mãe-modelo, pai-cantor e
bebê-artista foram esquecidos sendo substituídos por outros ídolos.
Tenho certeza que não faltam pais e mães que saem todos os dias para
trabalhar ou à procura de um emprego para manter seus filhos felizes
e saudáveis e que precisam manter um sorriso quando estão
angustiados, avós que comprometem toda sua aposentadoria e economias
para alegrarem a vida dos netos ou até mesmo sustentá-los,
professores que se dedicam mais do que são obrigados pelo contrato
de trabalho que têm.
Não é preciso ir muito longe para encontrar alguém como um exemplo
inspirador e que vale muito mais que uma porção de ídolos efêmeros
ou distantes da nossa vida, e que certamente não contribuíram mais
do que nossos pais e avós, que estarão eternamente em nossa
história, que se não possuem qualidades inspiradoras que a mídia
estabelece como necessárias ao candidato a ídolo, fizeram muito, que
já vale a admiração: deram-nos a vida.
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