“E abençoou Deus o dia
sétimo, e o santificou;
porque nele descansou de
toda a
sua obra que Deus criara e
fizera.” (Gêneses 2:3)
Há alguns dias que tenho este
tema na mente: escrever sobre como podemos aproveitar melhor
nosso tempo, fazer tudo o que precisamos e também descansar, mas
esbarrava sempre na falta justamente dele, o tempo. Pensava: “no
domingo, que será um dia mais tranqüilo, escreverei”, mas como
outras tarefas, esta é apenas mais uma empurrada para a lista de
espera a ser realizada no tempo milagroso de algum domingo.
Provavelmente uma das frases
mais dita nas últimas décadas em virtude da nossa cultura
industrializada é “agora não posso, não tenho tempo”. E esta
falta de tempo gera stress, ansiedade, depressão, doenças da
nossa modernidade.
Vem-me em mente então, dois
esplendidos filmes: Perfume de Mulher e Sociedade dos Poetas
Mortos.
No primeiro Al Pacino
interpreta o tenente-coronel Frank Slade, que ficou cego ao
explodir uma granada. A partir deste acontecimento ele
desenvolve o olfato, além de possuir uma percepção incrível do
que acontece a sua volta. Numa das cenas principais, em um
restaurante ele se aproxima da mesa de uma moça que parece
entediada por esperar alguém. Ele a convida para dançar o tango
“Por Una Cabeza” ao que ela receosa diz que o homem que
espera poderá chegar a qualquer momento; ele responde: vive-se
uma vida em um momento. E ela se entrega à dança que sempre teve
vontade de aprender.
Em Sociedade dos Poetas Mortos,
Robin Williams interpreta o professor John Keating, muito
moderno para um colégio conservador. Ele procura mostrar aos
seus alunos uma nova visão da vida: “Carpe Diem, rapazes:
aproveitem o dia! Façam de suas vidas algo extraordinário”, com
esta frase em suas mentes os alunos resolvem “acordar para a
vida”.
As duas cenas falam do mesmo
tema: da importância de um instante onde podemos ser felizes ou
não, só depende da escolha que fizermos.
O Shabath é para os
judeus o dia sagrado de descanso, significa “cessar o trabalho”,
lembrando de Deus que criou o mundo e tudo o que há nele em seis
dias e descansou no sétimo. Hoje, o Shabath está não
somente na cultura judaica, mas em outras e também e em algumas
empresas que concedem períodos de descanso maiores e mais
freqüentes aos seus funcionários para que assim, eles sejam mais
produtivos e criativos.
Os italianos têm a expressão
“dolce far niente”, que é traduzido como suave indolência
ou o doce fazer nada. Mas o que entendemos por
indolência, por fazer nada? Numa rápida pesquisa ao dicionário
vemos que são sinônimos de insensibilidade, apatia, negligência,
desleixo ociosidade, inércia ou preguiça, qualidade de quem
gasta o tempo inutilmente. Parece que temos mesmo vergonha de
dar uma parada, não é?
Mas quando damos a nós mesmos
este pequeno luxo de tirar se não alguns dias, mas horas para
não fazer nada ou quase nada, ou pelo menos não fazer nada por
outras pessoas, pelo emprego, pela sociedade, mas somente para
nós mesmos, como tomar um banho demorado, ler aquele livro que
está há anos na estante, assistir a um filme, pensar, dormir em
plena luz do dia, tomar sol, caminhar pelas ruas do bairro com o
cachorro, ir à feira no sábado de manhã e comer um delicioso
pastel, ver e sentir a alegria de cheiros, sabores e cores que
vem daquelas barracas, assim, acabamos nos admirando como são
bons estes momentos de dolce far niente, sabath,
carpe diem ou preguiça mesmo.
Então, descobrimos que esta
contemplação faz bem, que com ela somos renovados e assim
tocamos a vida em frente com alegria e leveza.
Sibele
Cristina de Castro Ligório
poesia@vidaempoesia.com.br