Um escritor carioca, de quem
gosto muito, diz que quem não anda de ônibus não sabe nada da
vida. Não sou tão extremista, pois podemos vivenciar várias
formas de experiências a todos os momentos.
Mas concordo que andar de ônibus
pode sim ser uma aventura: temos mais tempo para observar o que
acontece dentro e fora daquele ambiente.
Basta dar uma voltinha nas ruas
de um bairro, tomar um ônibus ou outro meio de transporte
coletivo ou enfrentar uma longa fila, que voltamos com uma
porção de experiências e acontecimentos para contar.
Há alguns dias precisei ir a um
lugar que não sabia onde ficava em uma cidade que também
conhecia pouco, portanto, não sabia que ônibus tomar nem
exatamente onde havia um ponto de parada deles.
Mas como o ditado diz: que “quem
tem boca vai a Roma”, aproveitei a minha e fui pedindo
informações.
Algumas pessoas explicavam com
detalhes: “segue em frente, até fim do muro do cemitério (e o
muro era longo), depois sobe...”, (e a subida era íngrime)
outras eram mais concisas, diziam que o melhor era mesmo dar uns
passos a mais e perguntar novamente. Muitas pessoas procuravam
ajudar, sinal que eram solidárias com o trajeto alheio, outras
nem tanto.
Num determinado ponto, ainda sem
a mínima idéia se eu estava longe ou perto do endereço
procurado, e não tinha para quem perguntar, por não haver
nenhuma outra pessoa na rua, além de mim, resolvi caminhar mais
um pouco até que vi um guarda defronte a uma clínica.
Feliz da vida e acreditando que
desta vez encontrara alguém que poderia conhecer o endereço, me
aproximei e tentei fazer a pergunta: “por favor, o senhor sabe
onde...” ele não esperou nem eu terminar a frase e disse
secamente, sem sequer piscar:
--- Meu chefe não quer que eu
fale com mulheres!
Fiquei meio que espantada,
agradeci e segui em frente. Passado o impacto, ri um riso
solitário e lamentei a dureza do trabalho daquele homem, que
provavelmente passava o dia todo ali, estático, vendo a vida
acontecer ao seu redor, não podendo falar com ninguém, muito
menos com mulheres, lamentei por ter um chefe tão drástico. Ele
não me deu a informação que precisava, mas me deu assunto para o
dia.