Experiências das Ruas

Sibele Ligório

Um escritor carioca, de quem gosto muito, diz que quem não anda de ônibus não sabe nada da vida. Não sou tão extremista, pois podemos vivenciar várias formas de experiências a todos os momentos.

Mas concordo que andar de ônibus pode sim ser uma aventura: temos mais tempo para observar o que acontece dentro e fora daquele ambiente.

Basta dar uma voltinha nas ruas de um bairro, tomar um ônibus ou outro meio de transporte coletivo ou enfrentar uma longa fila, que voltamos com uma porção de experiências e acontecimentos para contar.

Há alguns dias precisei ir a um lugar que não sabia onde ficava em uma cidade que também conhecia pouco, portanto, não sabia que ônibus tomar nem exatamente onde havia um ponto de parada deles.

Mas como o ditado diz: que “quem tem boca vai a Roma”, aproveitei a minha e fui pedindo informações.

Algumas pessoas explicavam com detalhes: “segue em frente, até fim do muro do cemitério (e o muro era longo), depois sobe...”, (e a subida era íngrime) outras eram mais concisas, diziam que o melhor era mesmo dar uns passos a mais e perguntar novamente. Muitas pessoas procuravam ajudar, sinal que eram solidárias com o trajeto alheio, outras nem tanto.

Num determinado ponto, ainda sem a mínima idéia se eu estava longe ou perto do endereço procurado, e não tinha para quem perguntar, por não haver nenhuma outra pessoa na rua, além de mim, resolvi caminhar mais um pouco até que vi um guarda defronte a uma clínica.

Feliz da vida e acreditando que desta vez encontrara alguém que poderia conhecer o endereço, me aproximei e tentei fazer a pergunta: “por favor, o senhor sabe onde...” ele não esperou nem eu terminar a frase e disse secamente, sem sequer piscar:

--- Meu chefe não quer que eu fale com mulheres!

Fiquei meio que espantada, agradeci e segui em frente. Passado o impacto, ri um riso solitário e lamentei a dureza do trabalho daquele homem, que provavelmente passava o dia todo ali, estático, vendo a vida acontecer ao seu redor, não podendo falar com ninguém, muito menos com mulheres, lamentei por ter um chefe tão drástico. Ele não me deu a informação que precisava, mas me deu assunto para o dia.