Família: nossos iguais

Sibele Ligório

 

O Tigrão vive com seus amigos, o Ursinho Pooh, o Coelho, o Corujão e o Guru no Bosque dos Cem Acres, onde o inverno é rigoroso e é preciso providenciar os alimentos e os abrigos para que não passem necessidades.

A brincadeira favorita dele é pular entre as árvores na companhia dos seus amigos. Porém no inverno eles estão muito ocupados com suas atividades e o Tigrão acaba atrapalhando os afazeres, deixando o Coelho irritado que diz que ele deve procurar outros tigres, que como ele, gostem de pular.

Então, seguindo o conselho do Corujão, ele resolve sair em busca da sua árvore genealógica, na certeza de encontrar seus iguais. O Tigrão imagina que alguns deles são desbravadores e reis, tigres importantes e, claro, puladores.

Mesmo com a ajuda dos seus amigos, que até mesmo enviam-lhe uma carta como se tivesse sido escrita por um parente que promete logo visitá-lo, numa busca desesperada o Tigrão acaba não encontrando ninguém da sua família e conclui então, que na verdade não tem uma. Assim, ele descobre que o que têm são precisos amigos, mas que não são da sua família, não são seus iguais.

O filme infantil “O Tigrão – o filme”, inspirado nos livros do dramaturgo inglês Alan Alexander Milne, mostra a importância da amizade, que os amigos têm um papel muito especial na vida, só que por mais presentes que eles sejam, precisamos saber que temos uma árvore genealógica. Precisamos saber de onde vem nosso sangue, nossa história, precisamos de uma família.

Precisamos dos laços familiares desde quando nascemos, quando somos cercados de carinho por pessoas que torcem para que tudo em nosso corpo seja perfeito, que tenhamos saúde, sucesso, felicidade, que comparem nossos olhos e nosso sorriso com os de alguém da família.

Na medida em que a vida vai passando, ou por vontade ou por circunstâncias, às vezes acabamos nos afastando da família. Lembramos do aniversário de um amigo, mas não de telefonar, escrever uma cartinha, ou de visitar aquela tia que sempre foi tão carinhosa, porque não sabemos o que falar com aquela pessoa, que com o tempo passou a ser estranha em nossa vida.

Até mesmo acabamos rompendo os laços mais próximos, como os com nossos irmãos, ou porque acreditamos que “eles não são mais os mesmos”, mas que muitas vezes somos nós também que mudamos. Não pensamos que essas mudanças são naturais tanto neles como em nós, e que só é preciso aceitá-las.

Podemos até mesmo tentar passar a vida “esquecendo” que temos uma família, mas nossa história vai sempre nos lembrar, seja pela nossa forma de andar, pelo nosso físico, pelos nossos hábitos e manias, pela genética, e até mesmo pelas doenças hereditárias. Nossa vida é feita dessas referências que só a família nos transmite.

Nossa família corre dentro de nós pelo o que foram nossos antepassados e correrá dentro dos nossos descendentes pelo o que somos. Como esquecer disto?

 Sibele Cristina de Castro Ligório
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