Inculta e Bela

Por: Sibele Ligório

 

 

Podemos realmente dizer que a língua atual falada no Brasil é a nossa? Cada vez mais ouvimos a verdadeiramente nossa língua, resultante da miscegenação do tupi, descrita na carta de Pero Vaz de Caminha, sofrer interferências de outras.

É fácil percebermos a influência de outras, que surgem não só por necessidades profissionais, comerciais, econômicas. E modismos. Essas influências entram em nosso vocabulário sorrateiramente. Acabamos adaptando-nos à elas. Por quê falamos "tchau" e não um "até breve"?

Principalmente o inglês, tem influência perceptível, estendendo-se aos nomes de pessoas, comércios, equipamentos e gírias.

É necessário considerarmos que no Brasil existem milhares de pessoas analfabetas de sua própria língua, tanto escrita quanto falada. E este é um bom motivo para evitar-se o uso de termos, que bem poderiam ser ditos em português. O contrário é um erro crasso.

Não estamos pregando a utilização do português arcaico, mas que estejamos atentos o quanto estamos perdendo de nossas origens. Assim como não podemos negar que ás vezes são necessárias o emprego de expressões em outro idioma.

Acordamos e tomamos nosso coffe-break, conectamos à Internet, acessamos o site do banco pelo Internet Banking, fazemos o download do extrato financeiro, e assim evitamos as filas repletas de office-boys. Aproveitamos e vemos em nosso e-mail se chegou o newsletters com as informações do dia. Deixamos o carro na oficina mecânica para um recall, passamos no shopping e compramos aquela T-shirt que está em sale, com 10% off, vamos almoçar em um self-service. Ao chegarmos em casa, pedimos um hot dog pelo serviço de delivery. E assim, incorporamos expressões em inglês, desnecessárias ao nosso vocabulário.

Parece que sofremos uma "pilhagem lingüística", que tivemos roubada a nossa própria língua, ficando obrigados a falar, escrever e entender outra que não a nossa, e sequer percebermos.

A língua é a marca, a identidade e a cultura de uma nação. É propriedade dela, assim como, hinos e bandeiras.

Mas o que pode ser feito a bem do nosso idioma?

Poderia ser incentivado o livro brasileiro, da autoria à distribuição, com preços acessíveis, e bibliotecas bem disponibilizadas, incentivar o desenvolvimento da música e do cinema nacional e artes em geral.

Podemos doar livros, ouvir músicas nacionais (as boas, pois "éguinha pocotó" e semelhantes são contrárias), assistir ao cinema nacional, que vem produzindo ótimos filmes, incluir em nossas roupas expressões em português... Com disposição, vamos encontrar muitas outras formas.

O deputado federal Aldo Rebelo, autor do projeto de lei nº 1676/99, em defesa da língua portuguesa, está contribuindo para com um grande passo.

Estas iniciativas não necessariamente devem ser realizadas pelo governo, escolas ou meios comunicação, mas por cada brasileiro que valoriza nosso idioma.

Aceitando essa imposição de estrangeirismos, teremos cada vez mais o retrato desbotado da língua brasileira, como é o caso do personagem do programa Casseta & Planeta, seu Creysson, que possui até um çaite e também criou o Tradutôrio ofissiau eletroniquio portuguêsio-creyssonêsio. Seu Creysson foi muito citado nas pesquisas como o presidente ideal para o Brasil. Com isto, temos uma triste realidade. Não é cômico, mas sim triste.

Estamos perdendo muito de nossas características com os ruídos de outras línguas sobre a nossa. Espera-se não se ouvir o Hino Nacional Brasileiro cantado, por brasileiros, em inglês, no Brasil.

 

 

 

Sibele Ligório é contabilista, técnica em informática e acadêmica de Filosofia pela PUC - Campinas. É criadora do site Vida em Poesia.

sccl@e-estudar.com.br