Não julgueis

Sibele Ligório


Acredito que um dos mais difíceis mandamentos bíblicos seja o de não julgar. 

A princípio, como orienta o Livro de Mateus, não devemos julgar para não sermos julgados, pois com o juízo com que julgamos seremos julgados, e com a medida com que medirmos, servirá a nós também.

Estamos constantemente julgando e sendo julgados, seja pela aparência física, pelas deficiências, pelas carências, pela cultura, pelas crenças ou pela raça. Julgamos tudo aquilo que é diferente de nós, e que justamente por isso achamos “errado”.  

Quando julgamos apenas pelo puro hábito de que se é preciso falar algo, porque a maldade da língua é veloz, deixamos também de cumprir uma outra orientação de Jesus Cristo: a compaixão. 

Muitas vezes não pensamos que diante de uma situação difícil há um ser humano, que como nós, sente medo, tem seus receios, pode estar sofrendo ou simplesmente, não sabe como agir diferente. Porém, numa situação além do que possamos suportar, podemos agir da mesma forma. 

A palavra “alteridade” significa colocar-se no lugar do outro, é a capacidade de conviver com o diferente, de reconhecer o outro como um ser que também tem iguais direitos. 

Li em uma revista uma história acontecida no Japão, e que reproduzo aqui, pois fala bem do não julgar, da compaixão e da alteridade: 

Em um ônibus lotado, um operário embriagado falava alto e provocava os demais passageiros, causando assim um clima de irritação. Mas ninguém reagia para mudar aquela situação, pois o homem que gritava causava medo e era muito grande e forte. 

Foi então, que um senhor frágil e de idade avançada, perguntou-lhe o que ele havia bebido. “Saquê, mas isso não é da sua conta, velho!”, respondeu o passageiro embriagado, agora mais agressivo. “Ah, saquê, eu também gosto muito de saquê”, disse o senhor, e seguiu contando em detalhes que todas as noites de verão costumava tomar saquê no jardim com sua mulher, sob um pessegueiro.

A história de amor do senhor foi acalmando o passageiro nervoso que agora chorava no colo dele, enquanto contava que sua mulher havia falecido, que ele havia perdido o emprego e que pensava que sua vida não valia mais nada. 

Jesus Cristo é o maior exemplo para a humanidade de que não julgar é também amar o próximo. Ele foi julgado e mesmo assim demonstrou seu amor aos homens, teve compaixão com seus traidores, foi humilhado e crucificado entre ladrões, estando então na mesma condição deles. 

Exercitar o não julgamento, a compaixão e a alteridade, é o melhor caminho para melhorarmos nossa vida, e conseqüentemente a do próximo. Mas não é tarefa fácil, assim como também não é fácil amar o próximo como a nós mesmos. Mas, se pelo menos em uma pequenina parcela pudermos seguir o exemplo de Jesus Cristo, já seremos imensamente felizes. 

“Soltas a tua boca para o mal, e a tua língua compõe o engano”. (Salmos 50:19)

 

 Sibele Cristina de Castro Ligório
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