Acredito que um dos mais difíceis mandamentos bíblicos seja o
de não julgar.
A princípio, como orienta o
Livro de Mateus, não devemos julgar para não sermos julgados,
pois com o juízo com que julgamos seremos julgados, e com a
medida com que medirmos, servirá a nós também.
Estamos constantemente julgando
e sendo julgados, seja pela aparência física, pelas
deficiências, pelas carências, pela cultura, pelas crenças ou
pela raça. Julgamos tudo aquilo que é diferente de nós, e que
justamente por isso achamos “errado”.
Quando julgamos apenas pelo
puro hábito de que se é preciso falar algo, porque a maldade da
língua é veloz, deixamos também de cumprir uma outra orientação
de Jesus Cristo: a compaixão.
Muitas vezes não pensamos que
diante de uma situação difícil há um ser humano, que como nós,
sente medo, tem seus receios, pode estar sofrendo ou
simplesmente, não sabe como agir diferente. Porém, numa situação
além do que possamos suportar, podemos agir da mesma forma.
A palavra “alteridade”
significa colocar-se no lugar do outro, é a capacidade de
conviver com o diferente, de reconhecer o outro como um ser que
também tem iguais direitos.
Li em uma revista uma história
acontecida no Japão, e que reproduzo aqui, pois fala bem do não
julgar, da compaixão e da alteridade:
Em um ônibus lotado, um
operário embriagado falava alto e provocava os demais
passageiros, causando assim um clima de irritação. Mas ninguém
reagia para mudar aquela situação, pois o homem que gritava
causava medo e era muito grande e forte.
Foi então, que um senhor frágil
e de idade avançada, perguntou-lhe o que ele havia bebido.
“Saquê, mas isso não é da sua conta, velho!”, respondeu o
passageiro embriagado, agora mais agressivo. “Ah, saquê, eu
também gosto muito de saquê”, disse o senhor, e seguiu contando
em detalhes que todas as noites de verão costumava tomar saquê
no jardim com sua mulher, sob um pessegueiro.
A história de amor do senhor
foi acalmando o passageiro nervoso que agora chorava no colo
dele, enquanto contava que sua mulher havia falecido, que ele
havia perdido o emprego e que pensava que sua vida não valia
mais nada.
Jesus Cristo é o maior exemplo
para a humanidade de que não julgar é também amar o próximo. Ele
foi julgado e mesmo assim demonstrou seu amor aos homens, teve
compaixão com seus traidores, foi humilhado e crucificado entre
ladrões, estando então na mesma condição deles.
Exercitar o não julgamento, a
compaixão e a alteridade, é o melhor caminho para melhorarmos
nossa vida, e conseqüentemente a do próximo. Mas não é tarefa
fácil, assim como também não é fácil amar o próximo como a nós
mesmos. Mas, se pelo menos em uma pequenina parcela pudermos
seguir o exemplo de Jesus Cristo, já seremos imensamente
felizes.
“Soltas a
tua boca para o mal, e a tua língua compõe o engano”. (Salmos
50:19)
Sibele
Cristina de Castro Ligório
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