Há alguns anos
passados, eu conversava com um homem jovem mas muito culto.
Era um advogado especializado em Direito
Internacional.
O seu escritório
ficava num ponto nobre da cidade de São Paulo, e seus clientes
eram exclusivamente políticos e empresários
influentes.
O motivo de minha ida
ao seu escritório, era ter orientação jurídica para uma
questão que me preocupava no momento, embora não fosse do seu
ramo de especialização, mas por ser um caso simples e por ter
recomendação de um amigo mútuo, ele prontificou-se atender-me
sem agenda formal.
Na metade da tarde
daquele mesmo dia, recebeu-me com cordialidade em seu
escritório.
Fui objetivo ao expor
a questão que deveria tratar. Ele também fora direto a análise
e comentários e em pouco mais de trinta minutos tínhamos uma
posição clara e satisfatória, dirimindo assim minhas
preocupações iniciais.
Com o assunto
principal já esgotado pela conclusão obtida, então a conversa
passou para temas variados e tendo boa fluidez.
Em determinado
momento, ele passou a falar como uma pessoa muito religiosa e
preocupada com o destino da Humanidade, manifestando forte
crença no poder Divino e desesperança no comportamento do
homem.
Como se estivesse
refletindo sobre a questão do homem e seu comportamento no
planeta, falou quase que sussurrando: "...para que o mundo
acabe, basta que Deus determine que as mulheres não gerem mais
filhos...".
A expressão da frase
pareceu-me um devaneio, um pensamento sem sentido e claro, uma
visão utópica de alguém que radicalizava a solução de um
problema.
Nunca tive
preocupações e nem crenças quanto ao fim do mundo. Sou
preocupado em ter para mim vida duradoura e feliz, como
também, proporcionar o mesmo a todos com quem convivo.
Mas com o passar do
tempo, quando a frase reflexiva do meu interlocutor daquela
ocasião, vinha-me a memória, eu já achava que havia um
sentido, mesmo que ilógico e irracional, mas
Divino.
Pensar na
possibilidade de nunca mais ver uma mulher grávida, nunca mais
ver o nascimento de uma criança, nunca mais ouvir o tagarelar
das primeiras falas do menininho ou da menininha, achei no
mínimo assombrador.
Aquela frase
pronunciada com tanta solenidade, ficou por muito tempo
ecoando em minha memória. "...para que o mundo acabe, basta
que Deus determine que as mulheres não gerem mais
filhos...".
Nos dias atuais, três
décadas passadas de ter ouvido aquelas palavras, vendo a cada
dia notícias de clonagens animais já feitas com sucesso e até
a de humanos, que se ainda não foi obtida, certamente será em
pouco tempo, o reflexivo agora sou eu.
Mas esta clonagem é
física. Como fica a psicológica? E a espiritual?
Então, vem-me o
pensamento do que será que os homens estão temendo que
aconteça o fato de que Deus possa decidir fazer cessar a
geração de filhos, nos ventres das mulheres?
A data em que
mundialmente é comemorado o Dias das Mães, é o segundo domingo
do mês de maio.
Com a proximidade da
data, o espírito vai ficando mais sensível ao fato, o clima de
celebração vai preparando a alma para as homenagens,
inevitavelmente, vêm-me à memória aquelas palavras ouvidas no
passado.
Porém, apesar de tudo
que ouvi e li sobre possibilidades radicais, fico com a
convencional.
Não, nada será
substituído. Pois a clonagem é cópia. A cópia necessita de uma
matriz. Matriz é mãe. Mãe é Divina.