A Arte de Gerar Filhos

Por: João Ligório

 

Há alguns anos passados, eu conversava com um homem jovem mas muito culto. Era um advogado especializado em Direito Internacional.

O seu escritório ficava num ponto nobre da cidade de São Paulo, e seus clientes eram exclusivamente políticos e empresários influentes.

O motivo de minha ida ao seu escritório, era ter orientação jurídica para uma questão que me preocupava no momento, embora não fosse do seu ramo de especialização, mas por ser um caso simples e por ter recomendação de um amigo mútuo, ele prontificou-se atender-me sem agenda formal.

Na metade da tarde daquele mesmo dia, recebeu-me com cordialidade em seu escritório.

Fui objetivo ao expor a questão que deveria tratar. Ele também fora direto a análise e comentários e em pouco mais de trinta minutos tínhamos uma posição clara e satisfatória, dirimindo assim minhas preocupações iniciais.

Com o assunto principal já esgotado pela conclusão obtida, então a conversa passou para temas variados e tendo boa fluidez.

Em determinado momento, ele passou a falar como uma pessoa muito religiosa e preocupada com o destino da Humanidade, manifestando forte crença no poder Divino e desesperança no comportamento do homem.

Como se estivesse refletindo sobre a questão do homem e seu comportamento no planeta, falou quase que sussurrando: "...para que o mundo acabe, basta que Deus determine que as mulheres não gerem mais filhos...".

A expressão da frase pareceu-me um devaneio, um pensamento sem sentido e claro, uma visão utópica de alguém que radicalizava a solução de um problema.

Nunca tive preocupações e nem crenças quanto ao fim do mundo. Sou preocupado em ter para mim vida duradoura e feliz, como também, proporcionar o mesmo a todos com quem convivo.

Mas com o passar do tempo, quando a frase reflexiva do meu interlocutor daquela ocasião, vinha-me a memória, eu já achava que havia um sentido, mesmo que ilógico e irracional, mas Divino.

Pensar na possibilidade de nunca mais ver uma mulher grávida, nunca mais ver o nascimento de uma criança, nunca mais ouvir o tagarelar das primeiras falas do menininho ou da menininha, achei no mínimo assombrador.

Aquela frase pronunciada com tanta solenidade, ficou por muito tempo ecoando em minha memória. "...para que o mundo acabe, basta que Deus determine que as mulheres não gerem mais filhos...".

Nos dias atuais, três décadas passadas de ter ouvido aquelas palavras, vendo a cada dia notícias de clonagens animais já feitas com sucesso e até a de humanos, que se ainda não foi obtida, certamente será em pouco tempo, o reflexivo agora sou eu.

Mas esta clonagem é física. Como fica a psicológica? E a espiritual?

Então, vem-me o pensamento do que será que os homens estão temendo que aconteça o fato de que Deus possa decidir fazer cessar a geração de filhos, nos ventres das mulheres?

A data em que mundialmente é comemorado o Dias das Mães, é o segundo domingo do mês de maio.

Com a proximidade da data, o espírito vai ficando mais sensível ao fato, o clima de celebração vai preparando a alma para as homenagens, inevitavelmente, vêm-me à memória aquelas palavras ouvidas no passado.

Porém, apesar de tudo que ouvi e li sobre possibilidades radicais, fico com a convencional.

Não, nada será substituído. Pois a clonagem é cópia. A cópia necessita de uma matriz. Matriz é mãe. Mãe é Divina.

 

 

 

João Ligório é contabilista e escritor.

autor@e-estudar.com.br