Eu e meus irmãos quando éramos
crianças tínhamos entre nós alguns "negócios", como trocar um
brinquedo ou um doce. Se algum deles pouco depois se
arrependesse e tentasse desfazer o trato, eu dizia categórica:
quis, está quisto.
Eu não gostava da indecisão, se
haviam aceitado o combinado deveriam querê-lo para todo o
sempre. Eles argumentavam, tentando me convencer e citavam
vantagens no distrato, mas eu não voltava a trás. Restava a eles
apenas se conformar. E "quis, está quisto" era meu ponto final
na questão.
Passamos ao longo da vida
tomando decisões, sendo elas certas ou não. O fato é que
precisamos sempre decidir. Maior do que o risco de uma escolha
errada é o da indecisão. A escolha errada trás transtornos, mas
também a oportunidade da experiência e do crescimento, mas a
falta dela ou a decisão no momento postergado pode prejudicar
ainda mais.
Lembrei-me então, de um exemplo
do que a indecisão pode fazer. O paradoxo do Asno de Buridan,
que na dúvida entre comer um monte de feno, e assim matar a fome
ou beber uma gamela de água e matar a sede, olhava um, olhava o
outro e acabou morrendo na dúvida de qual necessidade atender
primeiro. Enfim, de tanto pensar morreu um burro, diz o ditado.
A expressão é derivada do nome
Jean Buridan, um filósofo escolástico francês da Idade Média que
defendeu o determinismo, afirmando que a vontade deve escolher o
melhor dos bens. Uma de suas teorias era a do ímpeto, que
explicava o movimento de projéteis e objetos em queda livre.
Essa teoria deu inicio ao estudo da dinâmica de Galileu e sobre
o princípio da Inércia, de Isaac Newton.
Buridan entendia que o
determinismo moral, exceto quando da ignorância ou por
impedimento, orientava ao ser humano que diante de duas ou mais
escolhas de ação deveria optar pela de maior bem, assim, a
escolha deveria ser postergada até a certeza final. Alguns
escritores satirizaram esta teoria, com a imagem de um burro
indeciso, o Asno de Buridan.
Na verdade, esta sátira surgiu
de uma citação de Aristóteles, que perguntava: “como um cão
poderia decidir racionalmente sobre qual refeição lhe era a
melhor entre duas escolhas, igualmente interessantes?”.
Quando não tomamos decisões,
corremos o risco dos outros tomá-las por nós, o que é bem pior.
Sejam elas complexas ou bem simples, precisamos decidir na vida
pessoal, na profissional, no social, entre tantas opções num
self-service ou por um único presente em uma loja de 1,99, ou
seja, a vida nos cobra que não fiquemos em cima do muro, sem
saber se pulamos ou não.
Tome suas decisões. E quis, está
quisto!
Sibele
Cristina de Castro Ligório
poesia@vidaempoesia.com.br