Recentemente ao receber um telefonema, já
conhecedora do quanto a pessoa que estava na outra ponta da linha é
ávida em falar, ao atender já sabia que perderia um bom tempo. Por
não querer ser indelicada, ouvi. Depois de longo tempo e de falas
compulsivas, de exposição de idéias inacabadas e colocações
desprovidas de sentido coerente, ao desligar o telefone quase nada
do que me foi dito, foi proveitoso para mim. Dessa
experiência concluí que da próxima vez, se preciso for, serei sim
indelicada, pois o outro lado não respeitou os meus
ouvidos.
Gibran Khalil Gibran, um libanês autor de uma
grande obra intitulada “O Profeta”, escreveu sobre a fala: “Falais
quando deixais de estar em paz com vossos pensamentos; E quando não
podeis mais viver na solidão de vossos pensamentos, viveis em vossos
lábios, e o som é uma diversão e um passatempo. E, em muito de vossa
fala, o pensamento é um pouco assassinado. Pois o pensamento é um
pássaro do espaço, que, em uma gaiola de palavras pode, em verdade,
dobrar suas asas, mas não consegue voar. Entre vós, há os que buscam
os que falam por medo de ficarem sozinhos. O silêncio da solidão
revela a seus olhos seus seres desnudos e eles fogem. E há aqueles
que têm a verdade dentro de si mesmos, mas não a contam através de
palavras”.
Os orientais, que prezam a arte do pensamento,
da moderação, da concentração e da serenidade, e conseqüentemente do
silêncio e do valor das palavras, são mestres em equilíbrio mental.
Dificilmente veremos um “falando pelos
cotovelos”.
Não sou a favor da mudez total ou da apatia,
mas admiro a pessoa serena que sabe falar e mais ainda ouvir. Que
durante uma conversa não fica tentando podar ou completar o
pensamento do outro, ou pior, a cada sentença completa com um “eu
também”, parecendo não querer ficar em desvantagem
verbal.
O título “O resto é silêncio”, é em homenagem
ao titulo de um livro de Érico Veríssimo que escreveu tão vasta obra e
com tanta intensidade, certamente por que soube
ouvir.