O Resto é Silêncio

Por: Sibele Ligório

Estamos vivendo na era da informação, onde tudo ou talvez quase tudo, gira em torno dela e conseqüentemente da comunicação. Parece que as informações explodem por todos os meios e queiramos, ou não, elas chegam até seu destino: nossos ouvidos.

Nós mesmos às vezes estamos explodindo para falar, para despejar nos ouvidos alheios uma porção de informações.

Mais difícil do que falar é ouvir. Ouvir melhor e somente o que merece ser ouvido.

Lembro de uma brincadeira infantil em que o primeiro do grupo que falasse era obrigado a “comer a caca da vaca amarela” e sair do círculo. Todos seguravam a boca com a mão para não escapar uma risada ou uma palavra, mas não durava muito, logo alguém não agüentava. Prova que o silêncio parecia incomodar.

Recentemente ao receber um telefonema, já conhecedora do quanto a pessoa que estava na outra ponta da linha é ávida em falar, ao atender já sabia que perderia um bom tempo. Por não querer ser indelicada, ouvi. Depois de longo tempo e de falas compulsivas, de exposição de idéias inacabadas e colocações desprovidas de sentido coerente, ao desligar o telefone quase nada do que me foi dito, foi  proveitoso para mim. Dessa experiência concluí que da próxima vez, se preciso for, serei sim indelicada, pois o outro lado não respeitou os meus ouvidos.

Gibran Khalil Gibran, um libanês autor de uma grande obra intitulada “O Profeta”, escreveu sobre a fala: “Falais quando deixais de estar em paz com vossos pensamentos; E quando não podeis mais viver na solidão de vossos pensamentos, viveis em vossos lábios, e o som é uma diversão e um passatempo. E, em muito de vossa fala, o pensamento é um pouco assassinado. Pois o pensamento é um pássaro do espaço, que, em uma gaiola de palavras pode, em verdade, dobrar suas asas, mas não consegue voar. Entre vós, há os que buscam os que falam por medo de ficarem sozinhos. O silêncio da solidão revela a seus olhos seus seres desnudos e eles fogem. E há aqueles que têm a verdade dentro de si mesmos, mas não a contam através de palavras”.

Os orientais, que prezam a arte do pensamento, da moderação, da concentração e da serenidade, e conseqüentemente do silêncio e do valor das palavras, são mestres em equilíbrio mental. Dificilmente veremos um “falando pelos cotovelos”.

Não sou a favor da mudez total ou da apatia, mas admiro a pessoa serena que sabe falar e mais ainda ouvir. Que durante uma conversa não fica tentando podar ou completar o pensamento do outro, ou pior, a cada sentença completa com um “eu também”, parecendo não querer ficar em desvantagem verbal.

O título “O resto é silêncio”, é em homenagem ao titulo de um livro de Érico Veríssimo que  escreveu tão vasta obra e com tanta intensidade, certamente por que soube ouvir.

Citei dois escritores, mas um dos melhores exemplos do bom uso da palavra e do silêncio, foi Jesus Cristo, que falava e se calava no momento certo. E é com uma preciosa citação dos Provérbios de Salomão que concluo: “Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita ao seu tempo”. Provérbios 25:11.

 

 

 

Sibele Ligório é contabilista, técnica em informática e acadêmica de Filosofia pela PUC - Campinas. É criadora do site Vida em Poesia.

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