As Tsunamis das Nossas Vidas

 

 

É triste a tragédia que os habitantes e turistas da Tailândia e de outros países asiáticos sofreram com a fúria das Tsunamis.

 

Milhares de pessoas morreram, perderam família, bens materiais e sentimentais. Tiveram sua cultura arrasada de forma irreparável. A mídia, empresas privadas, órgãos governamentais e cidadãos mobilizaram-se com a legítima intenção de socorrer os necessitados. Na TV já foram vistos diversos exemplos.

 

O Brasil e os brasileiros são muito solidários à dor alheia, visto que está sempre disposto ajudar. Nas campanhas de Natal arrecadam-se toneladas de alimentos e a um apelo de algum apresentador de TV, reverte-se em milhões de reais em doações.

 

Admiro este empenho das pessoas em ajudar. Mas infelizmente também já é notícia os desvios de verbas e doações, a violência com mulheres e o comércio de crianças que está acontecendo na Tailândia, entristecem muito, como se a desgraça pelo fenômeno natural, ali fosse pouca.

 

Muitas pessoas e instituições são prontas em ajudar em campanhas, e acredito na boa intenção da maioria, mas é preciso estar atento àqueles que precisam de ajuda e estão mais próximos de nós. Não é preciso ir muito longe para encontrar alguém clamando por atenção.

 

Poucas famílias não têm pelo menos uma pessoa desempregada ou doente. Raras vezes que não se vê adultos e crianças debaixo de sol escaldante tentando vender de porta em porta alimentos, artesanatos e tantas coisas, ou empurrando carrinhos com restos de papelão e garrafas para venderem por alguns centavos, apenas.

 

Passam Tsunamis todos os dias nas vidas dessas pessoas angustiadas, assustadas e tristes, sem nenhuma perspectiva de futuro melhor para si e para os seus. E para nós....e para nós, para a maioria de nós elas são invisíveis. Nos sensibilizamos com a dor de pessoas de países distantes, totalmente nossas desconhecidas e deixamos de estender a mão para ajudar até mesmo um irmão de sangue, justificando de várias formas do porquê não podemos ajudar.

 

Muitas pessoas não se importam com o quanto gastam em ligações para votar em qual participante do Big Brother deve sair ou não do programa ou para votar em um artista para que ele receba um prêmio ou comprar revistas que falam da vida e dos sucessos de celebridades, mas não levam um brinquedo para o filho de um parente desempregado. Até evita visitá-lo para não ser abordado com pedidos. Não quer saber se no posto de saúde do seu bairro há ou não remédios.

 

Sou, sim, muito favorável que se ajude ao próximo, mas primeiro o próximo mais próximo. Depois o mais distante, porque certamente perto do próximo distante, tem alguém mais próximo que pode priorizar o atendimento.

 

 

 

Sibele Ligório é contabilista, técnica em informática e acadêmica de Filosofia pela PUC - Campinas. É criadora do site Vida em Poesia.