La Pensierosa  - 1913 - John William Godward


 
 

 

 

Batatinha Quando Nasce

 

Batatinha quando nasce
Deita rama pelo chão;
Mulatinha quando deita
Bota a mão no coração.

Pirolito que Bate, Bate

 

Pirolito que bate, que bate,
Pirolito que já bateu;
Quem gosta de mim é ela,
Quem gosta dela sou eu.

 

 

Cachorrinho Está Latindo

 

Cachorrinho está latindo
Lá no fundo do quintal;
Cala a boca, cachorrinho,
Deixa meu amor chegar!

 

Quem Canta, Seu Mal Espanta

 

Quem canta seu mal espanta,
Quem chora seu mal aumenta,
Eu canto para disfarçar
Uma dor que me atormenta.

 

 

Balaio

 

Balaio, meu bem, balaio,
Balaio do coração;
Moça que não tem balaio
Bota a costura no chão.

Balaio, meu bem, balaio,
Balaio do presidente:
Por causa deste balaio
Já mataram tanta gente!...

Balaio, meu bem, balaio,
Balaio de tapeti;
Por causa deste balaio
Me degradaram daqui.

 

 

A Barata

 

Nada há no paraíso
Que me faça eu falar;
Não há sapo nem barata
Que me possa incomodar.

Eu vi uma barata
No capote de vovô;
Quando ela me avistou
Bateu asas e voou.

Eu vi uma barata
Com a tesoura na mão,
Cortando calças, camisas,
Vestidos de babadão.

Eu vi uma barata
Sentada fazendo renda,
E também eu vi um rato
Ser caixeiro de uma venda.

Eu vi uma barata
Sentada numa costura.
E também eu vi um rato
De pistola na cintura.

Eu vi uma barata
Na janela namorando,
Vi um sapo de luneta
Pela rua passeando.

Eu vi uma barata
Na ladeira da preguiça
E também vi um cachorro
Amarrado com linguiça.


 

 

Cravo e a Rosa

 

O cravo tem vinte folhas,
A rosa tem vinte e uma;
Anda o cravo em demanda,
Porque a rosa tem mais uma.

O cravo brigou co'a rosa
Debaixo de uma sacada;
O cravo saiu ferido,
E a rosa espinicada.

Viva o cravo, viva a rosa,
Viva o palácio do rei;
Viva o primeiro amor
Que nesta terra tomei!

O cravo caiu doente,
A rosa o foi visitar;
O cravo deu um desmaio,
A rosa pôs-se a chorar.

 

 

Fragmento do Cabeleira

 

 

— Fecha a porta, gente,
Cabeleira aí vem,
Matando mulheres,
Meninos também.
Corram, minha gente,
Cabeleira aí vem,
Ele não vem só,
Vem seu pai também.
"Meu pai me pediu
Por sua benção
Que eu não fosse mole,
Fosse valentão.
Lá na minha terra,
Lá em Santo Antão,

Encontrei um homem
Feito um guaribão,
Pus-lhe o bacamarte,
Foi pá, pi, no chão.
Minha mãe me deu
Contas pra rezar,
Quem tiver seus filhos
Saiba-os ensinar,
Veja o Cabeleira
Que vai a enforcar.
........................
Meu pai me chamou:
— Zé Gomes, vem cá;
Como tens passado

No
canavial?
"Mortinho de fome.
Sequinho de sede,
Só me sustentava
Em caninhas verdes,
— Vem cá, José Gomes,
Anda-me contar

Como te prenderam
No canavial?
"Eu me vi cercado.
De cabos, tenentes,
Cada pé de cana
Era um pé de gente."

 

 

 

Silvio Romero

(1851-1914)

 

Silvio Romero (Sílvio Vasconcelos da Silveira Ramos Romero), crítico literário brasileiro e historiador da literatura. Nasceu em Lagarto, Sergipe, e faleceu no Rio de Janeiro. Bacharel em direito pela faculdade do Recife (1873), foi juiz em Parati, Rio de Janeiro, dedicando-se também ao magistério. Foi professor de filosofia no Colégio Pedro II (1880) e de Filosofia do Direito na Faculdade Livre de Direito do Rio de Janeiro. Por um breve período participou do parlamento, tendo sido deputado por Sergipe (1899). Um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, também ocupou uma cadeira no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Participou ativamente da vida intelectual e política brasileira.

Escreveu obras sobre crítica e história literária, sociologia, filosofia, política, folclore e poesia popular. Entre elas, destacam-se A literatura brasileira e a crítica moderna (1880), História da literatura brasileira (1888), Cantos populares do Brasil (1882), Estudos sobre a poesia popular brasileira (1889), A filosofia no Brasil (1878), Doutrina contra doutrina (1894), O parlamentarismo e o presidencialismo no Brasil (1893) e O Brasil social (1908).

Figura de destaque da Escola do Recife publicou, em 1878, o primeiro livro de história das idéias filosóficas no Brasil: A filosofia no Brasil.

Foi divulgador do pensamento filosófico de Tobias Barreto, principal figura da Escola do Recife. Defendendo o Liberalismo, criticou a tese da ditadura positivista. Na crítica e historiografia literária destacou-se como analista com conhecimento dos autores e textos. Filiando-se à estética realista, escreveu a primeira história da literatura brasileira sob a perspectiva de uma obra de arte retratar, psicologicamente, uma sociedade. Foi um dos responsáveis pela valorização das tradições populares, recolhidas nas obras sobre o folclore. Nos últimos anos, sem abandonar as teses evolucionistas, defendeu a metodologia de estudos sociais monográficos, defendidas por Le Play.

Fonte: Enciclópedia Encarta - 2000 (Microsoft)

 

 

 

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